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domingo, 12 de abril de 2020

A RESSURREIÇÃO

No dia de hoje, os cristãos celebram o acontecimento mais emblemático e intrigante não apenas da história das religiões, mas da história do mundo. A ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos é um dos acontecimentos que mais desafia a ciência e a lógica humana, quiçá o número um nesse quesito. 
A despeito da dificuldade que os homens têm de dar crédito à este evento, dado o seu caráter sobrenatural, e às consequentes objeções apresentadas contra ele, a ressurreição continua se apresentando como um fato histórico bem estabelecido e atestado. 
Josh McDowell, um apologista cristão que antes de sua conversão tentou refutar o cristianismo, menciona algumas evidências da ressurreição que o fizeram dar meia volta. Ele faz referência ao professor Thomas Arnold, titular da cadeira de História Moderna em Oxford e autor dos três volumes de "História de Roma" , que faz a significativa declaração: "Por muitos anos tenho estudado as histórias de outros tempos e examinado e pesado as evidências do que escrevo sobre eles, e não conheço nenhum fato na história da humanidade que seja provado por melhores e mais completas evidências de todo tipo, capazes de satisfazer um pesquisador honesto... de que Cristo morreu e retornou dos mortos". O Dr. Paul L. Maier, professor de História Antiga na Western Michigan University, relata: "se toda evidência for cuidadosa e honestamente pesada, é de fato justificável, de acordo com os cânones da pesquisa histórica, concluir que a tumba na qual Jesus foi enterrado estava realmente vazia na manhã da primeira Páscoa. E nenhum fragmento de evidência foi ainda descoberto em fontes literárias, pela epigrafia ou arqueologia, que contestasse essa declaração". Dois casos particularmente curiosos são os de dois homens ligados ao direito. O primeiro, chamado Simon Greenleaf, professor em Harvard, decidiu aplicar os princípios da lei da evidência contidos em sua obra de três volumes, chamada "Um Tratado Sobre a Lei Da Evidência". A conclusão a que ele chegou, baseada em práticas legais usadas em cortes de justiça, foi de que a ressurreição é um fato histórico mais bem fundamentado do que quase todos os eventos históricos. O segundo caso é o do Dr. Frank Morrison, que é descrito como um advogado formado no ambiente racionalista. Ele tentou produzir uma obra que deveria retirar o que ele chamava de "conto de fadas com final feliz" e de "mito"-  referindo-se à ressurreição. À semelhança de Greenleaf e de McDowell, ele chegou a uma conclusão diferente, dizendo sua obra que Jesus de fato retornou dos mortos. O nome de sua obra é particularmente curioso: chama-se "Quem Removeu a Pedra?".
Esses são apenas alguns exemplos significativos, que facilmente poderiam ser multiplicados aqui. A comprovação histórica e arqueológica da ressurreição é um fato incontestável e irrefutável. Porém, é óbvio que tudo isto é completamente destituído de sentido, se tal evento não for recebido pela fé, sem a qual é impossível agradar a Deus (Hebreus 11.6). A fé cristã celebra o mais extraordinário dos milagres de que a humanidade é testemunha. Há evidência de sobra para fundamentar a ressurreição. Mas, e acima de tudo, a fé plantada nos corações dos homens pelo próprio Deus os conduz à adoração devota àquele que é a ressurreição e a vida (João 11.25), e esta fé é um fundamento inabalável! Celebremos, Cristo ressuscitou!

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

A DOUTRINA DA SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS

Por Jonas Chaves


             A doutrina reformada da suficiência das Escrituras ensina que a Palavra de Deus é completa e suficiente. Por esta razão, não há necessidade de acréscimos de qualquer natureza à Bíblia. Esta doutrina confere à Escritura o lugar de honra e autoridade que lhe é devido. Não só isto, mas ressalta a sabedoria e perfeição da revelação divina, uma vez que mostra que Deus revelou de maneira perfeita e completa a sua vontade. O Senhor não nos deu uma revelação parcial, incompleta ou fragmentada.
            Apesar de a doutrina ser óbvia, já que, sendo Deus perfeito em seu ser e em suas obras, a revelação jamais poderia ser incompleta, muitas são as doutrinas e práticas de determinados grupos pseudo-cristãos que a sacrificam. Pretendo, com este breve estudo, apresentar alguns destes grupos heréticos. Antes disso, irei mostrar o fundamento bíblico-teológico-histórico da doutrina.
            Desta forma, conhecendo os pilares desta doutrina escriturística e identificando as tendências modernas que prejudicam esta visão ortodoxa da Escritura, poderemos perceber quando a Igreja está, de alguma forma, anulando a suficiência da Palavra de Deus.

OS ALICERCES DA DOUTRINA DA SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS

A DOUTRINA NA BÍBLIA

            A Bíblia é o nosso fundamento, portanto precisamos extrair dela o pressuposto que iremos defender. Podemos considerar o texto de Deuteronômio 4.2, que diz: “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do SENHOR, vosso Deus, que eu vos mando”. O Senhor Deus estava dando instruções ao povo de Israel quando lhes deu esta ordem. E esta ordem é clara e específica: nada deveria ser acrescentado nem diminuído daquilo que ele havia revelado.
            Semelhantemente, no mesmo livro citado encontramos esta orientação: “Tudo o que eu te ordeno observarás; nada lhe acrescentarás, nem diminuirás” (12.32). Neste caso o contexto é litúrgico. Estes dois textos são parecidos com o que encontramos em Apocalipse 22.19-20, que amaldiçoa aqueles que ousarem acrescentar ou diminuir palavras ao que foi escrito na profecia. Por estes textos podemos deduzir que a Palavra de Deus é suficiente, completa e perfeita, não precisando de acréscimo. Não sendo isto verdade, por qual razão haveria tanta proibição para se adicionar ou subtrair palavras daquilo que Deus tinha revelado? Isso só se explica com a ideia da suficiência da Escritura.
            Tudo o que Deus revelou é completo, suficiente. Nada precisa ser adicionado. A Bíblia, tal qual a temos em mãos hoje, “é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça...” (2ª Tm 3.16). Estes textos básicos bastam para se provar biblicamente a doutrina da suficiência da Escritura.

A DOUTRINA NA HISTÓRIA

            A doutrina da suficiência da Escritura está amplamente presente no protestantismo histórico-ortodoxo. Estudando os escritos dos nossos antepassados a encontramos claramente. É importante analisar a doutrina historicamente; saber o que nossos irmãos do passado entenderam sobre certas doutrinas é importante para a nossa compreensão dela. Brian Schwertley diz que “desde os tempos dos apóstolos até hoje, a igreja tem crido que a Bíblia é completa, eficiente, suficiente, inerrante, infalível e autoritativa” [1] (grifo meu).  
            A 6ª seção do primeiro capítulo da Confissão de Fé de Westminster reza o seguinte:
            “Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comuns às nações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da palavra, que sempre devem ser observadas” [2].                                   
             O ensino é claro. Tudo o que precisamos saber para nossa vida cristã está contido na Escritura. Obviamente nem tudo é igualmente claro. A confissão ensina que aquilo que não está claro pode ser estabelecido por dedução. O que se pode afirmar com certeza, com base em seu ensino, é que não existe nada além da Escritura que tenha peso compulsório sobre os cristãos.
           
SINAIS DO ABANDONO DA DOUTRINA DA SUFICIÊNCIA DA ESCRITURA
               
            Quando a apostasia começa a se manifestar na Igreja, é impossível não se identificar os sinais. Eles claramente apontam para o declínio da Escritura na vida desta. Isto tem sido uma característica do evangelicalismo moderno. Quando as Santas Escrituras não estão no centro da vida cristã, a Igreja padece, cai em um abismo sem fim.
            A “insuficiência” da Escritura é a tônica da maioria das ditas igrejas cristãs, sejam elas católicas romanas ou “evangélicas”. As duas principais formas de sacrifício à suficiência da Bíblia são a tradição e a crença nas novas revelações do Espírito.

A TRADIÇÃO

            Esta é a marca da igreja romana. Para o catolicismo, a tradição tem peso equiparado com as Escrituras, de maneira que aquilo que é passado ao longo das gerações como ensino verdadeiro, é igualmente autoritativo para os homens, tanto quanto a Palavra.
            Esta forma de enxergar a tradição invalida a Palavra de Deus, além de torná-la incompleta, pois faz supor que algo é adicionado ao seu ensino. Teríamos uma revelação parcial da parte de Deus, e não poderíamos dizer que a Bíblia é um guia completo para a condução da vida cristã.
            Os reformadores rejeitaram com veemência esta concepção. Para eles, as Escrituras são a autoridade máxima, na verdade única, em matéria de fé. A Bíblia é a norma norman, à qual todas das demais normal estão submissas. Elas condenam com muita clareza possíveis acréscimos ao seu conteúdo, em textos já mencionados (Dt 4.2; 12.32; Ap 22.19-20).
   Existe, ainda, no caso do catolicismo, um agravante: as adições são, em muitos casos, acompanhadas de heresias. Algumas de suas doutrinas, que são ensinadas apenas em seus catecismos, encíclicas, bulas papais e outros documentos, não encontram qualquer amparo nas Escrituras. Doutrinas como a mariolatria, a transubstanciação, o purgatório, o limbus patrum e o limbus infantum, a missa, o papa, o celibato do clero e inúmeras outras estão em total desacordo com a Bíblia.
É digno de nota que o problema de uma tradição em pé de igualdade com a Escritura não é apenas propriedade da igreja papal. Muitos evangélicos, por adotarem um sistema rígido de vida, o qual não é também ensinado em parte alguma das Escrituras, caem nesse engano. Eles impõem sobre os seus seguidores uma série de restrições, e acabam usurpando o lugar da Palavra de Deus no direcionamento da vida cristã. Eles “atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos homens” (Mt 23.4). Nosso Senhor Jesus diz que aqueles que fazem estas coisas invalidam a Palavra de Deus por causa de suas tradições, e acrescenta que estes adoram a Deus em vão (Mt 15.6,9).

AS NOVAS REVELAÇÕES DO ESPÍRITO
       
       Esta é a segunda perversão da doutrina da suficiência da Escritura. Por sua natureza “miraculosa”, ela tem alcançado grande popularidade, e diversos grupos outrora considerados conservadores, fechados, têm aderido a este movimento anti-bíblico.
 Segundo se alega nos círculos pentecostais e carismáticos (que defendem estas supostas revelações), o Espírito Santo continua a conceder dons revelacionais tal qual nos dias dos profetas da antiga aliança e nos dos apóstolos, na nova aliança. Estes dons possuem a mesma natureza que aqueles registrados nas Escrituras. De acordo com esta crença, estes dons devem permanecer na Igreja até a segunda vinda de Cristo.
 Esta doutrina entra em conflito com a Palavra de Deus. Ela pressupõe a possibilidade de acréscimos não autorizados ao seu sagrado conteúdo. Uma vez que nós dispomos de uma cânon bíblico completo e perfeito, não há necessidade de novas revelações. Supondo uma revelação nos dias de hoje, qual seria o conteúdo desta revelação? Seria uma doutrina nova? Se o conteúdo desta revelação fosse contrário à Escritura, obviamente ela não poderia ser aceita. E se ele estivesse em acordo, não seria uma nova revelação, apenas uma exposição do que já está revelado – e isto os fieis ministros do evangelho já fazem. Nas palavras do Rev. Paulo Anglada, tratando da Sola Scriptura, “Se as novas revelações do Espírito ou as tradições humanas ensinam o que já é ensinado nas Escrituras, são desnecessárias; se vão além, devem ser rejeitadas” [3].  
Não é apenas por inferência lógica que é possível refutar esta heresia, as Escrituras também não a apóiam. No ensino de Paulo, a Igreja está erigida sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, onde Cristo é a pedra principal (Ef 2.20). Não se pode pôr outro fundamento além do que já foi posto – Cristo (2ª Co 3.11). Todos os textos bíblicos que condenam os acréscimos à Palavra também são suficientes para se refutar a crença nas novas revelações.
Além de tudo o que foi dito sobre este movimento, é preciso fazer referência aos resultados desastrosos a que este ensino tem conduzido. Destas experiências subjetivas têm surgido toda sorte de ensinos e práticas bizarras. Talvez o principal indicador disto seja o culto. Vários elementos nocivos a uma liturgia bíblica são introduzidos sem nenhuma autorização. As igrejas estão cheias de pessoas vazias. Não se cresce nem na graça nem tão pouco no conhecimento do Senhor Jesus Cristo. Podemos resumir que tanto as Escrituras quanto as nossas experiências (aquilo que temos visto diante de nós diariamente) atestam que esta doutrina, longe de glorificar a Deus, tem causado escândalo ao evangelho.

  
CONCLUSÃO

Segundo ensinavam os reformadores, uma das marcas da verdadeira Igreja é a pregação fiel da Palavra de Deus. Quando não se tem esta compreensão, o resultado é danoso. A Igreja deixa de ser guiada pelas Escrituras e abre-se o caminho para o subjetivismo e para as inovações mundanas.
A Reforma trouxe consigo o entendimento de que a Escritura, e somente a Escritura, deve nortear todas as áreas da vida do homem. Como já foi argumentado, a Bíblia é inspirada por Deus (2ª Tm 3.16), por isso ela é completa, perfeita e suficiente. Nada mais precisa ser acrescido. Deus não deixou faltar nenhum detalhe, nem foi pego de surpresa pelas circunstâncias para precisar conferir autoridade à tradição histórica da Igreja ou a supostas revelações do Espírito.
Hoje, o misticismo, o pragmatismo, o relativismo, o pietismo e o subjetivismo invadiram a Igreja. Estão assolando e devastando as comunidades cristãs, seus cultos, sua doutrina, sua vida. Uma das claras razões para esse caos é a descrença na suficiência da Escritura. Essas pessoas, na verdade, não têm fé suficiente para ficar com a Escritura somente, elas precisam de algo que a complemente. Nós, porém, como herdeiros do pensamento reformado que somos, não entendemos que a Escritura seja insuficiente ou incompleta. Cremos que o Senhor nos deu exatamente aquilo de que precisamos: a completa revelação de sua soberana vontade para as nossas vidas.
Precisamos defender a suficiência da Escritura. Para isto, precisamos mostrar a sua natureza transformadora na vida das pessoas. Precisamos colocá-la em seu devido lugar, que é o púlpito. Um grande sinal da negação desta doutrina em nossos dias é o “sumiço” da Escritura na pregação. Substitui-se o conteúdo bíblico por mensagens de auto-ajuda, discursos que mais se assemelham a palestras motivacionais do que a sermões. Recoloquemos a santa Escritura no seu lugar, é disto que precisamos. Sola Scriptura!            
             



[1] SCHWERTLEY, Brian. O Movimento Carismático e as Novas Revelações do Espírito. São Paulo: Os Puritanos, 2000, pág. 47.
[2] HODGE, Alexander A. Confissão de Fé de Westminster Comentada. Traduzido por Valter Graciano Martins. São Paulo: Os Puritanos, 2013, pág. 64.
[3] ANGLADA, Paulo Roberto Batista. Sola Scriptura – A Doutrina Reformada das Escrituras. Ananindeua: Knox Publicações, 2013, pág. 98.

RESUMO DO LIVRO "AS ESCRITURAS DÃO TESTEMUNHO DE MIM", DA EDITORA VIDA NOVA, CAPÍTULO POR CAPÍTULO

Por Jonas Chaves

CAPÍTULO 1 – No primeiro capítulo, de autoria de Albert Mohler Jr., temos um estudo intitulado “Estudando as Escrituras Para Encontrar Jesus”. O autor nos mostra a evidência do testemunho das Escrituras em relação a Cristo de quatro formas.
            A primeira testemunha é João Batista. O texto do evangelho de João é muito claro em ensinar que ele era de fato testemunha (Jo 1.7-9). Ele foi aquela voz no deserto que havia sido profetizada (Mc 1.2-3). Ele mesmo deu testemunho a respeito de quem era o Senhor Jesus (Jo 1.29). A segunda testemunha são as próprias obra de Cristo. Estas obras são os milagres e sinais que realizava, bem como sua pregação. Ele mesmo confirma esta verdade (Jo 5.36). A terceira testemunha é o Pai. João 5.37 fundamenta esta verdade. Deus Pai confirma a sua realização na obra de seu Filho amado dizendo que este é “o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Por fim, a quarta testemunha são as Escrituras (Jo 5.39-40).
            Mohler finaliza o capítulo fazendo o que faz no decurso do mesmo: mostrando que devemos encontrar e pregar Cristo a partir de toda a Bíblia, inclusive do Antigo testamento. Por esta razão, é loucura a prática de alguns de abandonar as Escrituras do Antigo Testamento, que claramente nos revelam evangelho tanto quanto o Novo Testamento.
CAPÍTULO 2 – O segundo capítulo 2 é de Tim Keller. O título do capítulo é “A Saída”. Nele, o autor começa com o relato da travessia do Mar Vermelho. Keller expõe 3 verdades que compõem o significado da salvação com base na passagem mencionada.
            A primeira coisa é que “a salvação diz respeito ao que deixamos para trás: a escravidão em camadas”. Ele trabalha a ideia de redenção e nos mostra que por ela somos livres da lei, de sua natureza pecaminosa e dos ídolos. A segunda diz que “a salvação diz respeito à maneira como saímos: atravessando para o outro lado pela graça”. Assim como os egípcios foram salvos pela vontade graciosa de Deus, e não por seus méritos, assim nós hoje alcançamos a salvação desta mesma maneira. A terceira e última coisa é que “a salvação diz respeito à razão porque saímos: a intervenção do Mediador”. Aqui ele nos informa sobre como a atividade de Moisés como Mediador foi importante para o povo, assim como a atividade mediadora do nosso Senhor Jesus o é para nós.
CAPÍTULO 3 – Este capítulo, intitulado “De Uma Estrangeira Ao Rei Jesus”, é de Alistair Begg. Neste capítulo o autor traz estudos sobre o livro de Rute. Ele propõe três daquilo que ele batiza de “esboço em carvão”.
            No primeiro esboço temos a história de Noemi, Orfa e Rute na estrada para Belém (Rt 1), quando Noemi pergunta sobre o que elas desejam: voltar para Moabe ou prosseguir para Belém e estar debaixo da aliança com Yahweh. Orfa volta e Rute decide ficar. Ali, segundo o autor, temos a “conversão de Rute”. No segundo ele mostra a importância da figura de Boaz como o parente resgatador para quem Rute foi trabalhar e com quem ela deveria casar-se. Nele temos um elemento tipológico interessante, pois a qualidade de “resgatador” também se aplica a Yahweh. Além disso, o personagem Boaz aponta para o terceiro esboço em carvão, que é aquele que dele procedeu, o rei Davi. E o nosso resgatador, o Senhor Jesus, vem da linhagem davídica.
CAPÍTULO 4 – Este capítulo é de autoria de James MacDonald. Seu título é “Quando Você Não Sabe o Que Fazer”. Ele traz uma exposição sobre o Salmo 25. Aqui, o desafio é o encontrar Cristo neste Salmo e saber como pregá-lo para a Igreja hoje.
            Esse salmo é uma oração de Davi pelo socorro divino. Davi apela para Deus e sua aliança, pela qual ele promete ser misericordioso para com os seus, para se ver livre de seus inimigos. O que o autor faz na sua exposição do Salmo 25 é mostrar como Davi abre sua alma diante de Yahweh para buscar o seu auxílio gracioso. Essa graça divina aponta para o Senhor Jesus, que oferece a mesma graça a todos quantos, à semelhança de Davi (Sl 25.1,2), confiam no seu nome e no seu poder.
CAPÍTULO 5 – Conrad Mbewe é o autor do capítulo 5, cujo título é “O Renovo Justo”. A base para o sermão sob este título é o texto de Jeremias 23.1-8.
            O Senhor Deus, após ameaçar os pastores que dispersam suas ovelhas, promete enviar o “Renovo Justo”, um Rei prometido que traria justiça sobre a terra. É bastante interessante como o autor expõe este oráculo do Senhor através de quatro tópicos: a acusação do Senhor, a determinação do Senhor, a promessa do Senhor e a libertação do Senhor. Ele conclui afirmando que, da mesma forma como os israelitas olharam para esta promessa Senhor dos senhores com esta mesma expectativa, e com um sentimento de libertação ainda maior, já que a nossa libertação será muito maior do que aquela dos israelitas.
CAPÍTULO 6 – O capítulo 6 versa sobre “Juventude”, sob a autoria de Matt Chandler. Como já se pode imaginar de um capítulo com este tema, ele fala sobre o livro de Eclesiastes, particularmente o texto de 11.9 a 12.8.
            É bem curioso que este trecho da Escritura é usado pelo autor de forma auto-aplicativa. Chandler começa a exposição falando sobre duas situações negativas que ele teve de enfrentar (mortes na sua Igreja e câncer). Em meio a esse contexto, ele faz a exposição do texto apresentando os imperativos usados por Salomão (alegra-te e lembra-te do teu criador). O primeiro remete-nos à verdadeira alegria que o autor tem em mente: o gozar da felicidade que Deus concede nesta vida: casamento, trabalho, alimento, amigos, etc. O segundo é uma advertência a que o primeiro seja feito com sabedoria. Somos convidados a lembrarmo-nos do nosso criador.
            Lembrar-se de quem Deus é significa atentar para o que ele representa para o seu povo. Ele é aquele que fez maravilhas entre os homens, e diante de quem todos prestarão contas, no dia do juízo, por todos os seus atos. Nisto consiste a verdadeira alegria do homem na terra. O autor nos mostra o bom exemplo de Paulo, que em meio a tantas aflições impostas pela vida, sabia em quem tinha crido e não desfalecia (2ª Tm 1.12).
CAPÍTULO 7 – Esse é o penúltimo capítulo, de autoria de Mike Bullmore. O título deste capítulo é confortante: “Deus Tem Um Grande Coração de Amor Pelos Seus”. Aqui lemos uma edificante exposição sobre o livro do profeta Sofonias.
            Ele começa fazendo menção ao duro oráculo de juízo contra o povo de Deus. O profeta também apresenta o motivo: o povo de Deus, como de costume, havia se afastado do Senhor. Estava tentando servir a Deus e aos falsos deuses. Para o profeta, usando as palavras de Bullmore, “adorar a Deus e alguma outra coisa não é adorar a Deus de maneira nenhuma”. Yahweh obviamente jamais permitiria tal condição.
            Na segunda parte há o que o autor da exposição chama de “raio de esperança”. Deus, na sua infinita misericórdia, indica uma saída para o povo: o arrependimento. Este é o cerne do evangelho, e é por isso que podemos crer que todo o AT aponta para Cristo, pois ele é o evangelho. A esperança descamba em uma “explosão de alegria”, quando, no cap. 3 versos 14-17, o povo de Deus é convocado a se alegrar diante do Senhor pelo fato de ele ter livrado os seus da condenação que estava sobre eles.
CAPÍTULO 8 – Chegamos ao último capítulo, escrito pelo célebre Donald A. Carson. O título deste capítulo é “Empolgando-se com Melquisedeque”. Trata-se de uma exposição acerca da figura deste misterioso sacerdote que tipifica Cristo.
            Carson tem por base a menção a Melquisedeque no Salmo 110. Ele nos mostra como este servo de Deus aparece misteriosamente na Escritura. Há apenas duas menções a ele: Gênesis 14 e Hebreus. No entanto, a medida em que Carson explora as informações escriturísticas sobre Melquisedeque, sua importância vai sendo aos poucos descoberta.

            Ele foi um sacerdote de importância tal que o livro de Gênesis, no capítulo 14, mostra Abraão (ainda com o nome “Abrão”) entregando os dízimos dos melhores despojos de que dispunha, depois da guerra contra alguns reis. Após isso temos a bênção de Melquisedeque sobre Abraão. O autor da carta aos Hebreus o trata como mais importante que o próprio Abraão. Além disso, Carson lembra bem o fato de que não há na Escritura menção à genealogia de Melquisedeque; ele não entra em nenhuma, e isto é significativo. Por isso é que Cristo é sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 7.17-18).              



quarta-feira, 10 de outubro de 2018

ESTUDOS NO LIVRO DO PROFETA OBADIAS

Por Jonas Chaves



O livro do profeta Obadias traz um tema que é evidente em todas as Escrituras, a saber, o do amor especial de Deus pelo Seu povo eleito. Este amor inexplicável e imenso faz com que Ele nunca vacile no cuidado com Seu povo. Este, por sua vez, a despeito de sua constante infidelidade, é sempre objeto da maravilhosa graça divina, devendo ser grato por este motivo.
            Este livro, que foi escrito por volta do final do século VI a.C., está inserido em um contexto onde o povo de Israel havia sido oprimido pelos edomitas, que descendem de Esaú. O livro faz um contraste entre a descendência de Esaú e a de Jacó, os quais simbolizam Edom e Israel, respectivamente. Isto indica que a relação entre estes dois povos era tensa, assim como no caso dos personagens aludidos.
            A profecia deste livro, longe de estar obsoleta, fala fortemente para a Igreja de hoje. E o faz de uma maneira consoladora. Parece que às vezes se enfatiza muito o fato de Deus ser justo, irado contra o pecado e o soberano punidor do mesmo. Estas coisas são verdadeiras e devem ser pregadas na Igreja, porém há mais do que isso no Deus da Escritura, e estas coisas também precisam ser ensinadas. O Deus da Bíblia também é o Deus amoroso e benevolente, que se agrada em livrar o Seu povo da opressão do inimigo. O último dia, o dia da consumação de todas as coisas, será a expressão maior desta verdade.
            Veremos com a exposição deste livro como Deus abate a nação mais poderosa, o povo mais fortificado e os homens mais cruéis que possam existir a fim de prover salvação e resgate para os Seus. O Deus que se ira contra o Seu povo, que pune severamente seus pecados e que o castiga, é também o Deus que se agrada em dar livramento e graça para estes privilegiados. Tudo isto ficará patente à medida em que estudarmos este edificante livro.
            Possa o Senhor ser servido em edificar o corpo de Cristo através da exposição do profeta Obadias. Que a Igreja consiga extrair do seu conteúdo o que há de mais sublime, a fim de encontrar nele consolo para o coração e alento para a alma.

2. UM TERRÍVEL ORÁCULO DE DEUS CONTRA OS INIMIGOS DO SEU POVO
2.1 O ANÚNCIO DO JUÍZO CONTRA EDOM

         O texto que estamos considerando está inserido em um contexto histórico. É pertinente destacarmos este contexto. A maioria dos estudiosos data o livro entre os anos 587 e 586 a.C., tempo em que Jerusalém foi destruída.
            O oráculo é dirigido contra os edomitas em razão de terem eles participado deste evento. O Salmo 137.7 indica o ódio que Edom nutria contra Jerusalém, o que a levou a participar da destruição daquela cidade. Porém, em decorrência desta atitude ímpia para com o povo de Deus, um terrível juízo estava por vir.
            O profeta Obadias recebe uma revelação divina. Esta revelação, que se dá em forma de visão (“visão de Obadias”), credencia todo o livro como autoritativo e divinamente inspirado, uma vez que ela procedia de Deus. A palavra visão (hebraico: hazon) é um termo clássico no Antigo Testamento que aponta para a natureza revelatória da mensagem recebida.
            Esta visão corresponde à Palavra de Deus. A prova disso é a declaraçã­­­­­­o seguinte de Obadias. Ele introduz o tradicional “Assim diz Yahweh”, tão comum nos livros da velha aliança. Isto confirma a procedência divina da mensagem. Aliás, esta é uma marca distintiva e característica de um verdadeiro profeta de Deus. Muitos têm se levantado com esta prerrogativa, todavia o conteúdo de suas mensagens os denuncia como falsos profetas.
              E o que a voz de Deus dizia ao profeta? A fala divina é “a respeito de Edom”. Quem eram os edomitas? Eles eram os descendentes de Esaú, que era irmão de Jacó, de quem descendem os israelitas. Isto significa que, assim como Esaú e Jacó eram irmãos, Edom e Israel eram povos “irmãos”. No entanto, apesar da proximidade entre estes povos, a relação entre eles não era nem um pouco amistosa. Mais adiante veremos as razões que explicam isto.
            Seguindo com o texto, o profeta diz: “temos ouvido as novas de Yahweh”. Deus tinha um recado para entregar a estes dois povos (Israel e Edom). Pelo fato de o verbo estar no plural (temos), Calvino entende que Obadias fala em nome de outros profetas. O anúncio que estava por vir era o do juízo que havia de vir sobre Edom por causa do que fizeram contra Israel.
            Quem estava levando esta mensagem era um “mensageiro” que havia sido enviado. Citando mais uma vez o reformador Calvino, ele traduz o termo mensageiro como “embaixador”. Já W. Ward Gasgue prefere a tradução “arauto”, e até cogita a possibilidade de se tratar de um anjo.[1] Podemos entender de qualquer uma das formas, pois mensageiro, embaixador e arauto são a mesma coisa. E, além disso, quer tenha sido um outro profeta, quer um anjo, o fato é que Deus usou a instrumentalidade daquele seu servo para fazer a sua soberana voz ser ouvida.   
            O Mensageiro tinha algo a dizer. O anúncio que ele faz é uma convocação que tem um objetivo, o qual ele menciona com toda clareza. Ele chama para que se levantem “para a guerra”. Estava declarada a guerra contra o povo opressor dos israelitas. A maldade desse povo estava prestes a ser punida. Uma vez que esta mensagem tenha vindo direto da boca de Deus, é óbvio concluir que o próprio Deus era quem estava estabelecendo esta guerra. Calvino diz desse texto que “o profeta revela que guerras não são suscitadas por acaso, mas pela secreta influência divina”. [2]
            O povo de Israel tinha um inimigo declarado e muito bem definido pelo próprio Deus: Edom. Esta nação era distinta pela sua soberba. O Dr. Russel Shedd diz que os profetas (como Amós, Isaías, Jeremias, Ezequiel e outros) “chamaram a atenção para a atitude de auto-suficiência e orgulho de Edom, como raiz de seu pecado.” Isto era acentuado pelo fato de que Edom localizava em uma região montanhosa (v.3). Ele supõe também que era uma nação de difícil penetração, e cita os versos 6 e 7 como indicando que Edom só podia ser vencida com base em uma traição.
            Porque Edom havia destruído o povo de Deus e se ensoberbecido grandemente, estava agora prestes a virar ruína. Eles estavam ouvindo algo que era temido por todas as nações que conheciam a fama de Yahweh, o Deus de Israel: o anúncio do juízo de Deus. Veremos agora que algo levou os edomitas a destruírem e a zombarem da nação de Judá.

2.2 A SOBERBA DE EDOM É A CAUSA DA SUA RUÍNA

         O mensageiro identifica o problema moral da nação edomita como sendo a soberba. Deus a atinge exatamente naquilo em que ela se engrandece. A soberba era uma marca deste povo. Wiersbe comenta que “assim como as águias, os edomitas viviam nas rochas e olhavam do alto com desdém para as nações a seu redor.” 
            Quantos exemplos não conhecemos semelhantes ao de Edom? Muitas foram (e hoje ainda é uma realidade) as nações que caracterizaram-se pela soberba. O interessante da história é que as semelhanças não se limitam à atitude soberba, mas também ao fim que tiveram. O fim trágico para nações ímpias também será uma realidade futura. Tiago nos lembra que “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg. 4.6).
            O mensageiro diz no verso 2: “Eis que te fiz pequeno entre as nações; tu és mui desprezado.” O dicionário Vine diz que “pequeno” (heb. katan), na sua forma verbal, significa “diminuir, ser insignificante” Isto certamente constituía-se num golpe no orgulho desse povo. Como um mensageiro poderia dizer que uma nação tão exaltada e elevada acima das outras (até mesmo geograficamente) havia sido inferiorizada? Será que este mensageiro estava em seu juízo perfeito quando proferiu esta sentença, uma vez que Edom pisoteada seus oponentes?
            Logicamente a palavra do profeta não poderia estar equivocada, pois era a palavra de Deus (v.1). O fato é que o Deus de Israel é o Deus que destrona o maior dos reis da terra, reduzindo-o a monturo. Não há poderoso diante dele. Não há quem possa escapar de suas mãos poderosas, elas têm um alcance ilimitado (Is 43.13). Às vezes parece que a Igreja esquece-se do atributo do poder ilimitado de Deus e, na sua prática de vida, zomba disto. Vive de maneira orgulhosa e soberba. Muitos cristãos têm, por isso, experimentado a “resistência” de Deus de que fala Tiago, e isto não de forma injustificada.
            O profeta então mostra a fragilidade da confiança exacerbada dos edomitas em sua pretensa superioridade sobre as outras nações. Diz ele que os edomitas foram enganados pela sua soberba, no verso 3, destacando mais uma vez esta qualidade negativa deste povo.
            O verso 3 é uma radiografia do coração de Edom. Tal radiografia revela que o câncer da soberba havia se espalhado. E da mesma forma que um câncer tem o poder de levar as pessoas à morte, a soberba deste povo estava prestes a levá-los à destruição. Este povo habitava “nas fendas das rochas”, numa “alta morada”. Esta posição geográfica fazia com que Edom prevalecesse contra seus inimigos. Mesmo assim Deus promete destruí-la.
            De forma desafiadora, Edom dizia: “quem me deitará por terra?”. Para a decepção deste povo, havia um que era capaz de deitá-lo por terra. O Todo-Poderoso iria levantar-se do seu trono para executar vingança em favor do seu povo amado. Nunca é sábio desafiar a Deus. Muitos, por não saberem que “horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10.31), o desafiam e experimentam esta verdade na pele. Por incrível que pareça, até mesmo cristãos fazem isto. Será que não é hora de refletir sobre se estamos ou não desafiando o nosso Deus? Será que quando estamos destruindo a paz da Igreja de Cristo não estamos nos assemelhando aos edomitas e atraindo a ira de Deus?        
             Vemos aqui o grande amor e preocupação de Deus com seu povo. Este aspecto do nosso Deus também precisa ser destacado. É indispensável falarmos sobre a ira de Deus, as maldições da aliança, a necessidade de arrependimento, etc. Mas também se faz necessário salientarmos a bondade de Deus com a qual o seu povo é abençoado. O fato de Deus ser bondoso é motivo de alívio para nós, e na Escritura isto é ensinado para conforto nosso. Como reformados temos a tendência de enfatizar apenas a severidade de Deus, porém ele não é apenas ira e vingança. Ele é graça, misericórdia, bondade, etc. Veremos agora mais uma ameaça quanto à destruição de Edom.

2.3 NÃO HAVERÁ ESCAPATÓRIA PARA EDOM

           Através do profeta, o Senhor faz ecoar a mensagem de que o castigo era inevitável. Não há mais nada que Edom possa fazer para aplacar a ira divina. Edom era uma nação extremamente soberba e altiva. Por se localizar em uma região montanhosa, com o acesso dificultado para inimigos de guerra pelos vales estreitos e os grandes penhascos, eles se consideravam imbatíveis.[5]
              A questão que ficou para os edomitas era que para Deus não há gigante, forte ou poderoso. O profeta vai dar a certeza de que ainda que eles se elevem até os céus, lá onde ficam as estrelas, o castigo de Deus irá alcançá-lo.
              O Senhor Deus pune os soberbos. O sábio diz em Provérbios 16.18: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.” Não é preciso dizer que a soberba é incompatível com as virtudes que devem nortear a vida dos cristãos. A simplicidade do evangelho e o exemplo maior de humildade que já houve no mundo – o nosso Senhor Jesus Cristo – são provas disso.
              A ruína estava prestes a acontecer. A terrível cólera de Deus estava para ser derramada sobre esta nação profana e ímpia. O povo de Judá não podia submeter os edomitas a uma derrota desta por si só. Por isso o soberano Deus levantou-se do seu santo trono em favor de seu povo. Isto deve trazer-nos a lição de que devemos nos valer apenas do nosso Deus quando o perigo nos rodear. É exatamente assim que Calvino termina seu comentário deste trecho do livro. Ele nos ensina a que nós, mesmo em meio às perseguições que sofremos, não cessemos nunca de invocar o santo nome de Deus.
              É muito estranho quando ouvimos relatos de pessoas que, apesar de estarem há tanto tempo na Igreja, de serem aparentemente tão experientes na vida cristã, não obstante tudo isso são tão frágeis que não suportam o sofrimento e logo esmorecem, quando não abandonam a fé. Parece que tais pessoas esperam por uma vida que nunca lhes foi prometida na Bíblia. As Escrituras ensinam com muita clareza que no mundo todos haveremos de passar por aflições (Jo 16.33). O ensino que devemos retirar disso é de que precisamos aprender a confiar em Deus, que é o nosso refúgio (Sl 46.1).
              Deus prometeu derrubar a nação de Edom, ainda que eles se elevassem até às estrelas. Deus também promete que dará cabo de todos os ímpios no último dia, quando nosso Senhor Jesus Cristo retornar a este mundo para, de forma gloriosa e triunfante, estabelecer o estado eterno de felicidade do Seu povo. Nisso deve repousar nossa confiança. Ainda que eles nos submetam à terríveis torturas (como fizeram os edomitas aos israelitas), o fim que para eles está reservado é incomparavelmente mais horrendo. Cristo disse que não deveríamos temer os que matam o corpo, mas não podem fazê-lo com a alma, mas que deveriam temer Àquele (Deus) que é capaz de fazer isto.

3. A DERROCADA DE EDOM
3.1 A DESTRUIÇÃO SERÁ COMPLETA

         Duas perguntas são feitas no início do versículo 5. Essas perguntas não retratam a realidade do que irá suceder ao povo de Edom, apenas a ilustram parcialmente. O profeta nos conduz a um pensamento acerca do que ocorre em dois casos específicos. O primeiro é bastante comum às sociedades em todas as épocas. Ele mostra o que acontece quando ladrões, a noite, roubam os bens de outrem. Semelhantemente, fala sobre cachos (provavelmente tendo em mente uvas) sendo colhidos por vindimadores.
            Como Calvino acertadamente comenta, Deus não se contentaria com apenas um saque de parte dos bens de Edom. As riquezas seriam completamente extraídas.
            Um ladrão, pela natureza de sua prática criminosa, leva apenas aquilo que considera suficiente. Ele pode se esforçar por roubar o máximo que ele puder, mas ele não é capaz de levar tudo. A segunda metáfora usada é a da colheita de uvas. Os colhedores também não levavam tudo, muito em obediência a uma lei encontrada em Levíticos 19.10. Vemos o cumprimento dessa lei no caso de Boaz e Rute, quando aquele ordena a seus servos que deixem algumas espigas no campo para que ela apanhe (Rt 2.8-23).
            Este seria um saque diferente. Ao contrário daqueles corriqueiros, os assírios, povo que foi escolhido por Deus para aplicar seu juízo contra Edom, iriam devastar completa e impiedosamente este. Deve nos conduzir a uma indizível admiração este fato! De maneira espantosa, Deus estava castigando uma nação que havia consentido e participado na destruição do povo da aliança. Assim devemos olhar para o nosso Deus hoje também, como o Deus gracioso que provê proteção e livramento para os seus fieis.
            O que nós claramente podemos entender acerca da analogia feita pelo profeta é que tudo seria devastado em Edom, as casas, as propriedades, etc. Tudo seria saqueado sem que nada restasse. Este oráculo representa tanto uma séria ameaça e motivo de terror por parte dos edomitas, como uma mensagem de alívio e de justiça para o povo de Deus, que havia sido massacrado.
            Dillard e Longman lembram que o oráculo de Obadias, assim como os dos demais profetas, apresenta três elementos importantes: 1) A proclamação da Lei universal de Deus, o que significa que o Deus de Israel é o Deus de toda a terra, ao contrário dos falsos deuses que “reinavam” apenas nas nações onde eram cultuados; 2) A expressão da aliança abraâmica, de acordo com a qual Deus promete abençoar quem abençoasse o seu povo e amaldiçoar quem o amaldiçoasse (Gn 12.3); e 3) A ideia da guerra santa, onde o povo de Deus tem consciência do dever de, se necessário for, fazer guerra contra os seus opressores[6].
            No versículo 6 o profeta continua proclamando como a terra de Edom seria espoliada. Como que pasmado pelo que ocorreria com este povo, num estilo de canto fúnebre [7], Obadias exclama: “Como foram rebuscados os bens de Esaú!”. De maneira que muitos naqueles dias talvez não entendessem, foram “esquadrinhados todos os seus tesouros escondidos!”. A Bíblia de Jerusalém traduz o verbo “esquadrinhado” por “explorado”. O sentido é de que tudo foi revirado, sem que nada restasse. O profeta apenas enfatiza o que já havia dito. A devastação seria completa.
            O povo certamente ficaria perplexo com este acontecimento porque era difícil imaginar como Edom, tão forte, poderosa e quase impossível de ser vencida numa batalha seria tão grandemente humilhada. Isto é possível quando o Deus que exalta as nações se levanta do seu trono com o intuito de abatê-la. Humanamente seria complicado imaginar tal façanha, mas para Deus não existe impossível (cf. Lc 1.37). Este evento era tão certo que o profeta coloca o tempo no passado. É como se ele tivesse contemplado essa visitação divina em ira. Veremos na próxima parte o que mais estava por vir sobre a ímpia nação de Edom.

3.2 EDOM SERÁ TRAÍDA PELOS SEUS ALIADOS

         A ação mediata de Deus para que Edom fosse derrotada seria a traição. O verso 7 indica isto. Como diz Wiersbe, “o Senhor agiria de modo que as alianças com Edom fossem rompidas” . Mesmo sendo fortificados geograficamente, eles precisavam de alianças com outras nações que a ajudassem a se proteger contra os impérios que atacavam os povos do leste .
            Obadias diz que “Todos os teus aliados te levaram para fora dos teus limites”. Deus age de maneira tremenda fazendo com que, de repente, em uma nação antes imbatível, tudo começasse a dar errado, de forma que até mesmo os seus amigos se voltassem contra ela. A primeira ação foi a de levar Edom para fora de suas fronteiras e assim a expor aos ataques do inimigo; o profeta descreve mais três, quando diz que “enganaram”, “prevaleceram” e “puseram armadilhas” para Edom.
            Interessante é que os pactos realizados entre as nações eram feitos em um ambiente amigável, com direito a banquetes. Estabelecia-se, assim, um acordo mútuo entre os aliancistas. Como Edom poderia escapar do juízo de Deus se agora até os seus aliados viraram seus inimigos? A Igreja deveria aprender com este exemplo a lição de que nunca deveria confiar em pecadores, ainda que estes lhe jurassem fidelidade pactual. A nossa confiança deve estar apenas em Deus, o único que, uma vez tendo estabelecido aliança com o homem, garante “com a sua vida” que nunca irá quebrá-la (cf. Gn. 15.10,17).
            Diante disto, a pergunta pertinente é: em quem ou em que o povo de Deus tem confiado? Temos nós dependido apenas de Deus para a resolução dos conflitos contra os nossos inimigos? Será que o todo-poderoso, criador dos céus e da terra, o autor da vida e de tudo o que existe é suficiente para nele depositarmos nossa esperança? Haveria algo mais a acontecer que enfraquecesse os edomitas para que então fossem dominados e destruídos? Na sequencia, veremos que Deus ainda diminuiu a força deste povo para abatê-lo.
                       
3.3 EDOM SERÁ DESTITUÍDA DE SABEDORIA E FORÇA

            Até mesmo a sabedoria fora retirada dos edomitas. O profeta diz na parte final do versículo 7 que “não há em Edom entendimento”. Edom era caracterizada pela sabedoria proverbial, prudência política e coragem [10]. Yahweh aplica mais um duro golpe neste povo, fazendo com que seu entendimento fique obscurecido. Isto chegou a tal ponto que eles foram incapazes de perceber a armadilha que contra ele foi armada.
            Não existe nenhum empecilho para Deus quando ele decide agir. Ele já havia enfraquecido a terra de Edom, mas ainda precisava destituir este povo de inteligência para que a sua ruína se estabelecesse. Como são tolas as nações que confiam em suas alianças políticas e se esquecem do controle soberano de Deus sobre todas estas relações! Não existe aliança inquebrável para Deus a não ser a que ele impõe.
            O servo de Deus faz, no versículo 8, uma pergunta retórica, e nela ele usa um paralelismo: “Não acontecerá, naquele dia, diz Yahweh, que farei perecer os sábios de Edom e o entendimento do monte de Esaú?”. É certo que Deus fará isto! O seu juízo se manifestará através de todas estas desgraças que vêm sendo anunciadas por Obadias. Os edomitas seriam frustrados com a “retirada” de sua inteligência e sua inevitável derrocada. O orgulho e a altivez deste povo faziam co que eles olhassem para si mesmos de maneira soberba. Sua sabedoria era terrena, não vinha do alto, que é a verdadeira sabedoria (Tg 1.5).
            A sabedoria que é fruto de uma reflexão distanciada da revelação bíblica é soberba diante de Deus. Além disso, ela conduz à idolatria. Em Romanos 1.21-22 está escrito: “porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos”. Esta sabedoria anti-bíblica levou Edom à destruição.
            No verso 9 finaliza-se o que estava para acontecer com Edom, e o fim descrito pelo profeta é trágico! Ele diz: “Os teus valentes, ó Temã, estarão atemorizados”. Temã era a cidade mais importante de Edom. Os valentes de que fala o profeta eram os militares, já que esta cidade possuía um exército poderoso. De uma forma assombrosa, Deus os encheu de temor e os tornou vulneráveis, presas fáceis para os inimigos.
            A história registra que os árabes invadiram Edom e tomaram as cidades. Nada mais daquela antiga Edom dominadora e soberana restava. Os edomitas foram totalmente vencidos. Muitos fugiram para outras regiões, como o deserto do Neguebe, por exemplo. Vemos aqui que o “feitiço voltou contra o feiticeiro”, e aquilo a que os edomitas sujeitaram o povo de Deus lhes sobreveio. Deus lhes deu a paga com a “lei de talião”!
            O Deus de Israel, que é também o Deus da Igreja e o único do universo, deve ser temido e adorado! Seus grandes feitos na história estão registrados para que os seus eleitos nunca se esqueçam disso. É importante destacar isto. Parece que nos esquecemos da grandiosidade de Deus, de seu poder ilimitado e da excelência de seus desígnios. Levamos uma vida indiferente a estas realidades, não parece que somos os herdeiros de todas as promessas deste Deus.
            O temor que haverá de tomar conta dos valentes homens de guerra de Temã tem um propósito, que é descrito pelo profeta: “para que, do monte de Esaú, seja cada um exterminado pela matança”. O fim nefasto dos edomitas é relatado de maneira assustadora! Segundo as palavras do servo de Yahweh, ninguém escapará da matança. Todos serão dizimados.
            Calvino traduz a palavra “matança” (heb. katel) por carnificina. Ele nos lembra que ela significa uma matança na qual ninguém permanece vivo [11]. Seria algo impressionante essa experiência que seria vivenciada pelas nações que conheciam Edom. Como, tão repentinamente, este povo forte e imbatível em suas batalhas foi tão rapidamente reduzido a cinzas? Que poder seria este, capaz de abalar o inabalável? Nada a na ser o Deus onipotente, que a todos subjuga, seria capaz de promover tal acontecimento.
            O profeta Obadias ainda irá continuar, nos versículos posteriores (precisamente até o 14) a proferir as ameaças da parte de Deus contra os edomitas. Todavia, aquilo que até aqui fora registrado é suficiente para mostrar como Deus não tem o culpado por inocente, e preza por fazer justiça ao seu povo eleito. É suficiente para revelar como Deus faz cumprir sua promessa na aliança abraâmica de amaldiçoar quem amaldiçoasse seus filhos. Bendito seja ele por isto!

4. OS PECADOS DE EDOM
4.1 EDOM ALIOU-SE AOS INIMIGOS DE JUDÁ

         Como já indicado, a partir do verso 10 Obadias apresenta as razões pelas quais Deus impôs aos edomitas os castigos mencionados no seu livro. O verso 10 fala da “violência” dos edomitas contra os israelitas. O profeta aqui acentua a crueldade dos edomitas quando acrescenta a palavra irmão. Ele mostra com isso que o fato de serem eles irmãos não foi suficiente para fazer com que Edom não usasse de violência. O pecado em si já era condenável, e o fato de haver este laço familiar fazia com que o crime cometido se tornasse ainda mais grave.
            Este relato nos mostra com toda clareza que linhagem histórica não significa filiação divina nem aponta para a santidade. Se este fosse o caso, os edomitas não seriam tão ímpios como vemos na profecia de Obadias. Não é por causa de uma ascendência santa que alguém prova ser cristão genuíno, mas o recebimento da fé verdadeira é quem determina essa realidade. Lamentavelmente, muitos entre nós estão se gabando de suas raízes históricas e esquecendo-se do que realmente importa no cristianismo, que é a sua vida prática, já que até mesmo das pedras “Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Mt 3.9).
            De acordo com o texto, esta violência traria duas conseqüências. A primeira delas, diz o profeta, é que eles seriam cobertos pela vergonha. O que faz com que Deus seja tão severo na aplicação da punição? Existe algo no texto que nos indica essa resposta. Calvino, com o brilhantismo que lhe é peculiar, comenta que o propósito de Deus chamar os israelitas de irmãos dos edomitas era “declarar de forma mais completa a crueldade dos idumeus; pois a consangüinidade não tivera nenhum efeito para os impedir de se enfurecerem contra os próprios irmãos e, no modo de dizer, contra as próprias entranhas.”[12] Não era contra uma nação estrangeira, inimiga e destruidora que Edom estava se insurgindo. Na verdade, eles se aliaram a uma nação com estas características. Eles tiveram uma atitude oposta àquela que deles se esperava, por se tratar de um flagelo infligido a seus próprios irmãos.
            A atitude dos edomitas foi abominável! O Senhor Deus, o santo Deus de Israel, jamais deixaria este crime horrendo impune. Deus não tolera o pecado. Apesar de até mesmo este servir aos seus propósitos, não obstante ele pune severamente os que vivem na prática do pecado. Por conta disto, primeiramente eles seriam expostos à “vergonha”. Sua humilhação seria pública, assim como o foi a dos israelitas. Eles seriam cobertos pela vergonha. É uma maneira de expressar que eles seriam grandemente envergonhados. A segunda consequencia é ainda mais severa. “Serás exterminado para sempre”. A palavra “exterminado” é traduzida de outras formas nas várias traduções. Eis algumas: eliminados (NVI e Edição Pastoral), destruídos (NTLH), exterminados (ARC, ARA e Bíblia de Jerusalém) e perecerás (Peregrino). Todas elas apontam para um fim terrível reservado para este povo. Deus levaria à cabo o que ele estava sentenciando contra Edom. Aqueles que acham que a paciência de Deus nunca tem fim deveriam olhar para a destruição de Edom e tremer diante dele. Assim foi com eles, assim será na consumação de todas as coisas, quando chegarmos ao ápice do eschaton e o Senhor banir de sua face santa os ímpios para todo o sempre!
            Quanto tempo duraria o castigo dos edomitas? Algumas horas? Dias? Anos? O texto diz “para sempre”. A situação era irreversível. Deus não os pouparia, nem atenuaria sua punição, mas a aplicaria de modo permanente sobre eles. Como já foi comentado anteriormente, tal foi a sorte deles, totalmente exterminados e eliminados da terra. Alguns, como o Dr. Russel Shedd, afirmam que isto se cumpriu no ano 70 D.C., com a conhecida destruição da cidade de Jerusalém. Outros afirmam que o cumprimento desta profecia foi bem antes, logo após o cativeiro. O fato é que ninguém sobrou da linhagem de Esaú. Deus é zeloso de sua palavra. Ele jamais falaria algo que não viesse a acontecer como ele revelara. E assim, da mesma forma que os edomitas não levaram em consideração seu “parentesco” com Israel, Deus os castigou e os baniu da terra mesmo sabendo de tal proximidade genealógica.        
         No versículo 11, o profeta revela a natureza e a dimensão da maldade dos edomitas: “No dia em que, estando tu presente, estranhos lhe levaram os bens, e estrangeiros lhe entraram pelas portas e deitaram sortes sobre Jerusalém, tu mesmo eras um deles.” Os “estranhos” a que o texto se refere são os babilônios, que invadiram Jerusalém e a arrasaram. O exército babilônico invadiu Judá e devastou-a, destruindo tudo e saqueando o que podiam. Qual foi a postura dos edomitas diante disso? Eles ajudaram os judeus? Muito pelo contrário, eles se aliaram ao exército de Nabucodonosor. Wiersbe comenta a natureza hedionda do crime cometido contra os israelitas dizendo que os edomitas “ficaram nas encruzilhadas, prontos para pegar qualquer um que tentasse escapar; e entregaram os fugitivos ao inimigo para que fossem presos ou mortos.” 
            A palavra que define a atitude de Edom é traição. O que se espera de povos irmãos é tratamento afetivo mútuo. Edom aliou-se a um povo constituído de ímpios para perpetrar o mau contra seu irmão. Isto mostra a natureza vil do coração não regenerado. Mostra que o homem sem Deus é capaz de praticar os absurdos mais inimagináveis. Porém, não é verdade que pessoas que se dizem cristãs muitas vezes nos surpreendem com atitudes que delas não esperávamos? Não estamos cansados de ver exemplos de verdadeiros traidores que estão no meio do povo de Deus? Será que nossas comunidades não estão cheias de “edomitas”?
            Como Calvino comenta, eles podiam apresentar a Deus a desculpa de que não foram os responsáveis diretos pela destruição de Judá, e por isso não tinham culpa alguma. Eles foram coniventes. O texto enfatiza que Edom “estava presente”. Foi, de fato, uma atitude inaceitável da parte dos edomitas. Mas o soberano Deus, que é justo e não tolera o pecado, não deixaria tal barbárie impune. Ele iria levantar-se do seu sublime trono e aplicar a sua justiça. Mas antes disso, ele levanta o profeta para “embasar juridicamente” esta punição.           

 4.2 EDOM ALEGROU-SE COM A RUÍNA DE JUDÁ

         O servo de Deus Obadias passa agora a apontar as atitudes abomináveis praticadas pelos edomitas contra seus irmãos de Judá, enfatizando que eles não deveriam ter feito o que fizeram. Oito vezes o profeta repete a expressão “não devias”, do versículo 12 até o 14. Esta estrutura é semelhante à dos dez mandamentos, onde as proibições são feitas com o uso do advérbio de negação (não) seguido de um verbo. Por esta razão, alguns traduzem esta passagem de maneira semelhante aos mandamentos (ex: “não olhes..., não te alegres... etc.) A primeira coisa que eles não deveriam ter feito contra Jacó era “ter olhado com prazer para o dia de teu irmão”.
O pecado havia de tal forma dominado o coração dos edomitas que eles agora não apenas têm uma postura passiva com relação ao sofrimento de seus irmãos, como alegram-se, sentem prazer, exultam com a desgraça deles. E não era prazer por algo sem muita significância; tratava-se do “dia da sua calamidade”. O pecado torna as pessoas insensíveis à dor humana. As pessoas passam a sentir-se felizes com o sofrimento e a desgraça alheias. O caso dos edomitas tem o agravante de que tal felicidade tem como motivo o sofrimento e a desgraça vivida por seus irmãos!
Em se tratando de ímpios, atitudes abomináveis como estas são até compreensíveis. Mas o que dizer quando este tipo de coisa é vista entre o povo da aliança? Isto é compatível com um povo santo, separado por Deus para praticar obras de justiça? Se o que é reto e justo não for visto entre estes, de onde devemos esperar a prática justiça? Em nossos dias, para tristeza nossa, muitos são os que, contrariando as obras que os deveriam caracterizar, têm se assemelhado a estes edomitas, deleitando-se com as aflições experimentadas por seus irmãos na fé. Essas pessoas não são diferentes dos edomitas. Pelo contrário, por serem povo da aliança (ao menos em tese), seu pecado é ainda mais grave! 
A segunda coisa que Edom não deveria ter feito era ter-se “alegrado sobre os filhos de Judá, no dia da sua ruína”. Aqui temos a mesma substância da acusação anterior. A gravidade do crime apontado é a mesma. No terceiro apontamento do profeta temos a mesma estrutura. O profeta diz que eles também não deviam “ter falado de boca cheia, no dia da angústia”. Observa-se aí de maneira clara a existência de um paralelismo: eles tiveram prazer/se alegraram/falaram de boca cheia. Isto tudo em relação a seu irmão/filhos de Judá no dia de sua calamidade/ruína/angústia. Também é importante observar que o profeta faz questão de destacar o sofrimento do povo de Deus. A insensibilidade de Edom é tão grande que esta nação permaneceu irredutível, mesmo contemplando uma devastação de tão grandes proporções sofrida por seus irmãos.
Comentando a expressão “de boca cheia”, D.L. Moody diz que isso significa que eles “se vangloriaram diante dos outros sobre o fato dos israelitas merecerem o seu castigo. Assim, à injúria acrescentaram o insulto.” É extremamente difícil imaginar uma cena desta! O povo cujos laços com Israel deveriam ser de fraternidade estava sendo acusado de zombar da destruição daquele povo! Israel merecia o castigo que estava recebendo, pois foram a consequencia de seu pecado. Mas isso não justifica a atitude dos idumeus. Eles não deveriam ter-se comportando assim. Mas a sua postura diante desse caos, no fim das contas, constituiu-se na sua própria perdição, pois Deus, que não deixa o pecado impune, trataria com eles posteriormente. Restava apenas ao povo de Deus aguardar a resposta divina para tudo que estava acontecendo. Porém, as acusações ainda não acabaram. O profeta ainda tem algo a dissecar sobre o coração demasiadamente corrupto dos edomitas.       

4.3 EDOM PARTICIPOU ATIVAMENTE DA DESTRUIÇÃO DE JUDÁ

         No verso 13 seguem-se as acusações. Esta é a quarta. Obadias diz: “não devias ter entrado pela porta do meu povo, no dia da sua calamidade”. Isto mostra que os idumeus participaram ativamente desta cruel pilhagem da cidade de Jerusalém, e não apenas como meros expectadores. Nas palavras de Wiersbe, “os edomitas entraram na cidade e participaram da divisão dos espólios e, desse modo, roubaram a riqueza de seu irmão.” [15] Com isto, eles estavam juntando-se aos algozes dos judeus, formando com eles um exército que caminhava para destruir a cidade santa. Na quinta acusação temos uma repetição do conteúdo da primeira, onde o profeta disse que eles não deveriam “ter olhado com prazer” para aquela calamidade. Cada vez que o profeta aponta um pecado específico dos edomitas, a impressão é de que os edomitas descem mais e mais a uma condição de trevas espirituais que os levam a cometer atrocidades cada vez mais alarmantes.
            Neste mesmo versículo o profeta ainda diz que Edom não devia “ter lançado mão nos seus bens”. Esta sexta acusação revela-nos que outro crime praticado pelos edomitas contra Jacó foi o saque de suas riquezas. Mais um pecado bárbaro sujava ainda mais as já contaminadas mãos edomitas. Assim como eles, muitos são os que estão entre nós e cultivam o acúmulo de pecados. É pecado em cima de pecado. Quanto mais praticam, mais querem. E pior, ainda variam. Depois estes mesmos não sabem o motivo do castigo bater as suas portas! Eis aqui uma advertência para nós: se estamos acumulando pecado, não devemos esperar que a punição que virá da parte do Senhor seja desproporcional à eles. Não será jamais! Deus irá nos castigar até que sua ira seja saciada. Pensemos nisto antes de transgredir sua santíssima Lei!
            A sétima e penúltima denúncia está no versículo 14: “não devias ter parado nas encruzilhadas, para exterminares os que escapassem”. Calvino esclarece a ideia presente neste trecho. Ele diz que “os idumeus ocuparam todas as vias para interceptar os miseráveis exilados, aos quais a fuga era o único meio de segurança.” O tamanho da traição aumenta a cada denúncia do profeta. O que se nos mostra agora é que as rotas de fuga de Jerusalém foram todas fechadas pelos edomitas, ou seja, eles queriam garantir que os seus irmãos não escapariam da destruição.
            A última denúncia era o golpe final da maldade de Edom contra os israelitas. Edom não devia “ter entregado os que lhe restassem, no dia da angústia.”. A crueldade de Edom não tem limites. Não há o menor pudor. “Os que lhe restassem” é uma referência aos que porventura escapassem do cerco. Não era pra ninguém ficar de fora da matança. Não deveria haver exceção, todos os judeus deveriam experimentar a escravidão no exílio ou a morte! Após tudo isso, podemos dizer que o único diagnóstico possível para os idumeus é que estão mortos! Mortos espiritualmente. Não há mais temor a Deus nem amor ao próximo, ainda que este próximo seja seu próprio irmão! Que condição miserável! Que deploração! Esta é a condição de todos os ímpios ainda hoje! Mas, assim como o dia do Senhor chegou para os edomitas, e estes foram extintos, o Dia do Senhor, o dia específico que colocará um ponto final na história, este dia será de pranto e ranger de dentes para os inimigos de Deus e de sua Igreja. Que este dia chegue. Maranata!                

5. O GRANDE E TEMÍVEL DIA DO SENHOR
5.1 SERÁ UM DIA DE IRA SOBRE OS INIMIGOS DE DEUS

            O profeta faz referência a um tema recorrente no Antigo Testamento: o “Dia do SENHOR”. Esta expressão aparece em vários textos proféticos (Jl 2.31; Sf 1.7,14; Zc 14.1; Ml 4.5, etc.) e apontam para um dia, separado por Deus na história, para o acerto de contas. É um dia em que o povo que está para ser julgado há de encontrar-se com o Todo Poderoso para que este o julgue. Aqueles que praticam a justiça recebem a recompensa por isso, todavia, os que fazem aquilo que é mau aos olhos do supremo Juiz recebem a justa punição pelos seus pecados. O dia do SENHOR do nosso texto tem estas duas aplicações.
            Obadias nos diz que este dia “está prestes a vir”. A justiça de Deus nunca é atrasada. Ela vem no tempo certo, pois o tempo certo é aquele que Deus determina. O genuíno servo de Deus deve considerar o tempo estabelecido por Deus para a execução de seus soberanos propósitos, e não o tempo dos homens, que é carregado de uma sede egoísta e pecaminosa de vingança. Deus, a seu tempo, levantar-se-á do seu trono e agirá no tempo e na história com justiça. Como diz Calvino, “o Senhor não se apressa segundo a maneira dos homens; mas, paralelamente, conhece suas estações, e isso sempre se realiza, para que, quando os ímpios se julgarem estar em descanso, a súbita destruição então os acometa.”           
         Quando este dia chegar, a “lei da semeadura” será posta em prática. Nas palavras proféticas, “como tu fizeste, assim se fará contigo; o teu malfeito tornará sobre a tua cabeça.” O Senhor garante que as más ações cometidas pelos ímpios edomitas não ficarão sem a devida e justa retribuição, visto que Deus não é como os homens, que muitas vezes fazem vista grossa ao erro e ao pecado. Deus pune o pecador independente de qualquer coisa. Independente até mesmo de se tratar ou não de um servo seu. O rei Davi, embora fosse um homem “segundo o coração de Deus”, não escapou do castigo divino quando cometeu adultério com Bate-Seba e assassinou Urias. Deus, por meio do profeta Natã, disse a Davi: “Eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres à tua própria vista, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com elas, em plena luz deste sol.” e ainda “... posto que com isto deste motivo a que blasfemassem os inimigos do SENHOR, também o filho que te nasceu morrerá.” (2ª Samuel 12. 11,14).
            O texto fala a respeito daquilo que o Senhor anuncia que fará aos ímpios algozes do seu povo. O interessante é que estamos analisando a segunda parte do livro, que se inicia no versículo 15 e fala da restauração do povo de Deus. E faz parte deste oráculo de salvação o anúncio da destruição dos pecadores. Isto nos ensina que a mensagem de esperança do povo eleito não diz respeito apenas à bem-aventurança que os aguarda, mas à aniquilação dos incrédulos. Isto nos ensina que devemos nos alegrar também com a aplicação da justa ira divina sobre seus inimigos. Não uma alegria perversa e egocêntrica, mas uma alegria por ver os atributos da santidade e da justiça divinas sendo vindicados. Alegremo-nos, pois o Senhor, no dia do acerto de contas, proclamará através da punição que será aplicada aos impenitentes que ele é santo, justo e bom! 
         No versículo 16, o profeta usa uma linguagem simbólica para falar da ira de Deus sendo aplicada. Diz ele que “como bebestes no meu santo monte, assim beberão, de contínuo, todas as nações”. A ideia é de dizer que, assim como os idumeus destruíram Jerusalém e alegraram-se grandemente com isso, por essa causa, eles haveriam de beber do cálice da ira de Deus até a última gota. A realidade da punição divina que será aplicada com toda a sua intensidade e de maneira irreversível é assombrosa! As Escrituras deixam claro que, uma vez findado o tempo de se achar graça e perdão, completado o período escatológico predeterminado pelo Senhor, os ímpios serão castigados de uma maneira nunca antes experimentada por quem quer que seja. Diante disso, torna-se mais que evidente a loucura da vida dos homens que estão distantes de Deus.
            Esta punição será tão severa que o profeta diz que eles “beberão, sorverão e serão como se nunca tivessem sido”. Em outras palavras, a destruição será tal que, ao seu término, será como se eles nunca tivessem existido. Apenas as memórias de Edom é que restarão. Estas coisas servem tanto para a advertência dos ímpios e pecadores quanto para o alento do povo de Deus. Conforme comenta Wiersbe, “não importa quão desalentador o presente possa parecer ao povo do Senhor, há um Deus justo no céu que retribui aos pecadores conforme seus pecados: aquilo que fizeram aos outros, isso lhes será feito.”
            O versículo 18 faz um contraste entre o que está para acontecer com a casa de Jacó e a de Edom. Então o profeta diz que “a casa de Jacó será fogo, e a casa de José, chama, e a casa de Esaú restolho”. Deus aqui garante que o seu povo, até então estando como que reduzido a cinzas por causa de sua destruição, seria reerguido e se transformaria em verdadeiras labaredas. Já o destino dos idumeus seria exatamente o oposto: tornar-se-iam em palha, em cinzas, em restos (esses são os sentidos de “restolho”). O profeta ainda realça esta ideia dizendo que eles seriam consumidos e que “ninguém mais restará da casa de Esaú”. Já vimos outras, mas esta é mais uma referência à total destruição e extinção dos edomitas. Eles não sobraram. Não há mais nenhum deles para manter a sua memória; foram completamente apagados do mundo pelo poder de Deus.
            Tudo isso haveria de acontecer por uma razão, apontada pelo texto. A razão é: “porque o SENHOR o falou”. Como bem expressou o príncipe dos pregadores Charles Spurgeon, “o Senhor fala com uma boca que nunca falha”. Não foram homens que falaram ou prometeram. Foi o soberano Deus de Israel quem o disse, e quando ele fala nenhuma só palavra cai por terra. Tudo se cumpre integralmente. O tempo em que o Senhor Deus fará exatamente assim a todos os ímpios está vindo. Que as nações temam diante desta informação!

5.2 SERÁ O DIA DA ANSIADA SALVAÇÃO DO POVO DE DEUS (vv. 17, 19-21)

         Aqui encontramos a solene promessa de livramento para a Igreja de Deus. Aos santos de Deus cruelmente destruídos pelos babilônios, com a perversa colaboração da nação de Edom, é prometida a libertação e salvação de suas mazelas. Obadias diz que “no monte Sião, haverá livramento”. O monte Sião sempre foi tido pelos escritores bíblicos como o monte santo, o monte onde Deus se fazia presente graciosamente. Em Isaías 2.3 está escrito: “Irão muitas nações e dirão: vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do SENHOR, de Jerusalém.
            O monte Sião é o símbolo da congregação de todos os verdadeiros santos de Deus no Antigo Testamento. Em outras palavras, é o símbolo da Igreja de Cristo. Somente na Igreja, no corpo místico de Cristo, na congregação dos eleitos de Deus, há refúgio para os crentes. Os que estão fora desse reduto estão em apuros. Assim como não houve escapatória para aqueles que não se refugiaram em Sião, aqueles que estão fora da esfera do corpo místico de Cristo estão em grave situação de risco. Por isso que é muito perigoso para qualquer crente estar longe do convívio dos eleitos nesta vida. Por isso que o chamado movimento dos “desigrejados” é uma aberração. O autor aos hebreus tinha a compreensão desse perigo e por isso alertou seus ouvintes a não abandonarem suas congregações (Hb 10.25).
            Em seguida, há uma importante declaração do profeta Obadias. Diz ele: “o monte será santo; e os da casa de Jacó possuirão as suas herdades.” A importância dessa fala reside exatamente no verbo “possuir”, que transmite a ideia não apenas de uma tomada de determinada coisa, de algo que se passou a ter, mas traz a ideia de possuir por direito, possuir por ser o verdadeiro dono da referida propriedade. Os judaítas eram os donos das terras saqueadas pelos exércitos ímpios. Esta propriedade foi violada, mas não deixou de ser real. Então a promessa de Deus é de que eles reaveriam suas propriedades, algo que lhes pertencia por direito. Da mesma sorte, nós, os santos de Deus constantemente atribulados nessa vida, temos uma herança nos céus que nos aguarda. Será o dia em que “possuiremos nossas herdades”, naquela cidade que guarda nossa herança incorruptível (1ª Pe 1.4). Quão maravilhoso é este ensino! O crente que deposita sua fé sem reservas no Senhor Deus e em suas santas e benditas promessas não jamais irá se desesperar, ainda que sua luta neste mundo seja árdua. Ele possui uma alegria no coração que é alimentada por uma esperança que nada pode abalar!
            Nos versículos 19 e 20, temos a menção de algumas regiões geográficas que seriam reconquistadas. Aqui há a necessidade de uma análise mais detalhada, com o auxílio de um mapa do período, para melhor entendimento a respeito dos lugares citados. Mas para resumir a ideia, todos a respeito de quem se diz que “possuirão” refere-se aos israelitas, ao povo de Deus. E as terras conquistadas são os lugares que foram tomados por ocasião da invasão de Jerusalém. O Senhor garante que todas estas terras serão recuperadas. O mais interessante é o fato de que Israel não teve um exército poderoso aliado para essas conquistas. A força e a vitória deles sobre seus inimigos veio unicamente do Senhor. Independentemente de quem seja o opositor, a vontade de Deus prevalecerá.
            O versículo 21 nos ensina que salvadores julgarão o monte de Esaú do monte Sião. Esses salvadores são líderes que foram levantados por Deus. Eles representam o povo de Deus. E eles são os líderes de um Reino absoluto que, nos diz o texto, “será do SENHOR”. Eis a principal característica desse reino: ele pertence ao Senhor! Não é humano. Não é imperfeito. É um reino absoluto. No cumprimento histórico, Deus levou à cabo seus propósitos e baniu da terra santa os ímpios que ali se estabeleceram. No aspecto escatológico, Deus banirá de sua santa face todos os ímpios (2ª Ts 1.9).

6. CONCLUSÃO

              O amor de Deus pelo seu povo é imensurável. Movido por ele, Deus levou seu próprio Filho unigênito à morte de cruz. Portanto, ele tem prazer em agraciar seu povo com suas bênçãos, e o castigo dos ímpios está incluído entre estas bênçãos. Precisamos ser mais gratos a este Deus bendito, que com tantos livramentos nos abençoa. Devemos olhar para ele desta forma! Não é em nossa força que está o nosso socorro, mas naquele que de fato pode nos livrar dos nossos inimigos definitivamente!
              Deus não suporta a soberba das criaturas. Isto é um grande sinal da rebeldia da criação, que deveria ter uma atitude exatamente contrária a esta, ou seja, de humildade. Deus também destruirá toda soberba existente nos homens. Lembremos de que, por estarmos em aliança com Deus, ele nos pune todos os pecados condenados nesta aliança, e a soberba está inclusa. Esta disposição repugnante não deve ser cobiçada por nós. Infelizmente ela tem sido frequente entre alguns que estão entre nós. Que o Senhor nos livre destes!
              Nosso consolo está no fato de que aqueles a quem Deus têm por inimigo jamais serão capazes de livrar-se das mãos do todo-poderoso. Cedo ou tarde Deus os fará pagar por todos os crimes e todos os pecados cometidos contra os seus santos. Esta palavra ameaça os homens cruéis como os assassinos islâmicos que assolam a humanidade, especialmente os americanos (principais alvos destes homens sanguinários), e outros que não consideram a Lei de Deus. Diante dele todos haverão de prestar contas.
                Assim como no caso de Edom, o que está reservado para os ímpios, os perseguidores do povo de Deus, é uma destruição total e completa. Assim como foi com os edomitas, não haverá quem os livre das mãos daquele de quem ninguém pode se esconder. Nenhum sequer deles será poupado. Não importa o quanto hoje eles pareçam fortes, sua destruição será completa. Que nós encontremos nestas palavras consolo para as angústias que eles nos fazem passar.
            Os ímpios muitas vezes, no afã de levarem adiante seus desígnios pecaminosos, fazem alianças políticas com outros homens igualmente ímpios para planejarem o mal. Deus está observando tudo isto. Muitos deles o fazem sem qualquer peso de consciência. E muitos de nós cristãos, por acharmos que Deus está em “silêncio”, não confiamos em qualquer livramento da parte dele. Pensamos que tudo o que os incrédulos se propõem a fazer acaba em sucesso. Todavia, é importante que creiamos que Deus agirá no tempo certo, pois há tempo para tudo (Ec. 3). Em vez disso, é dever nosso confiar plenamente nas promessas da aliança de Deus; elas jamais falharão.
            Finalmente, precisamos lembrar que Deus faz com que coisas inusitadas aconteçam para que seus propósitos se cumpram. Ele tirou o entendimento de Edom, que, por ser uma rota comercial, possuía informações precisas sobre como e quando deveriam agir no caso de uma iminente guerra. Eles simplesmente não perceberam que seus aliados, com quem se banqueteavam e articulavam suas ações, prepararam o “bote” e os traíram. Deus muda as circunstâncias e vira o jogo. Devemos confiar em Deus de forma plena, crendo que ele é poderoso o suficiente para tornar o mal em bem (Gn 50.20).
                Devemos ter cuidado com o tipo de aliança que estamos estabelecendo. Edom aliou-se aos inimigos estrangeiros, e isto causou uma ruína incalculável. O exemplo deles deve alertar-nos de que podemos estar próximos de uma repentina ruína também, da qual dificilmente poderemos escapar. Quem são seus amigos? Com quem você faz alianças? Será que você tem se juntado com inimigos? Lembre-se de sua posição em Cristo!
            Edom também alegrou-se com tudo o que Judá passou por ocasião de sua destruição e deportação. Quantas vezes você, além de aliar-se à ímpios, ainda diverte-se com a desgraça de seus irmãos em Cristo? Será que, se esta for a sua realidade, você é diferente dos edomitas? Ou você acha que não é semelhante à eles porque não destruiu a cidade de ninguém? Saiba que se você vive para destruir de alguma maneira a vida de seus próprios irmãos, e ainda achar graça nisso, é motivo mais que suficiente para Deus te castigar da maneira mais severa que você possa imaginar. Arrependa-se, em quanto há tempo! Este é o melhor caminho a seguir.
            Se já não é aceitável que alguém que se diz nascido de novo ser indiferente à dor dos outros, imagine então ser responsável por esta dor? Edom participou da pilhagem que levou à mortandade o povo de Deus. Cuidado, o pecado cega, deixa insensível, tira o pudor, destrói! Se para prejudicar alguém você é capaz de até mesmo juntar-se à incrédulos, precisas urgentemente dar meia volta de arrepender-te dos teus pecados! Caso contrário, eles te levarão para o inferno, assim como levou os idumeus. Não há outro antídoto, apenas o evangelho transforma. Tudo o mais é destruição.
                O dia do Senhor virá. Não sabemos a hora, não sabemos os detalhes, mas a garantia bíblica que temos é de que ele virá. E quando esse dia chegar, os inimigos de Deus, que hoje são completamente alheios à Deus e vivem como se ele não existisse, sofrerão eternamente a punição por seus pecados. Bendito seja Deus, que é fiel e justo e não deixará que os transgressores de sua Lei fiquem sem a devida retribuição.
            Esse bendito dia também será de salvação para os santos de Deus. Esse é a esperança sobre a qual a Igreja repousa em meio a um estado de caos generalizado em que vivemos. Enquanto os homens que não têm essa esperança depositam sua confiança em sistemas e governos humanos, os regenerados sabem que estes estão destinados a ruir. O único Reino que será único, indestrutível, eterno e de bem-aventurança é o Reino eterno que pertence ao Senhor. Que o Senhor abençoe, guie e proteja a sua Igreja, para a glória do seu nome, por Cristo Jesus, o nosso Senhor. Amém!  
  

7. BIBLIOGRAFIA




[1] Bíblia do Peregrino. Paulus Editora: 3ª edição, 2011
[2] BRUCE, F.F. Comentário bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento / editor geral F.F. Bruce; tradução: Valdemar Kroker. – São Paulo: Editora Vida, 2008.
[3] CALVINO, João. Comentário de Obadias.
[4] DILLARD, LONGMAN. Raymond B., Tremper. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução Sueli da Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2006.
[5] MOODY, D.L. Comentário do profeta Obadias.
[6] VINE, W. E. O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Traduzido por Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro: CPAD, 2002
[7] WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento: volume IV, Profético / Warren Wiersbe; traduzido por Susana E. Klassen. – Santo André, São Paulo: Geográfica Editora, 2006.